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domingo, 27 de junho de 2010

Pensamento Sertânico.

Eu mantenho com meus versos
Os castelos sertanejos
Vagalumes nos lampejos
Trazem dos céus os anúncios
Minhas hostes de jagunços
Armam-se de dialética
E psicotomimética
É minha crença violeira
A festa da cabroeira
Mitiga a fome de luz
Dos cabras das cabras azúis
Dos carís de correnteza
O mastro de baraúna
De mais de um lustro de história
Carrega estandarte em memória
Dos crentes na redenção
São filhos de Dom Sebastião
Envolvidos na história
Ou são filhos da história
Do rei Dom Sebastião.


Sujeito Impareado

Acalanto doce, vez por outra tosco.
Caminho laço num vazio audaz
Numa febre louca, num beijar na boca
Na palavra tântrica e no que ela traz
Permeio encantos e encantamentos
Em detrimento do final feliz
Caminho cego pelo parapeito
De um amor perfeito e o que ele diz.
É branco e frio, ou caleidoscópio
Não há nada óbvio ou repetitivo
Todo verso cala, toda nota sente
Mas a dor somente é de quem é cativo
Tem caminho aberto só quem silencia
A palavra dita faz turvas as águas
Só clareia a noite em segredo o dia
Anoitece a via quem carrega mágoas.
Todo canto é cego todo verso é surdo
Todo caminhante é um dirigível
Todo tom é certo ainda que absurdo
Toda morte é falha e toda dor tangível
Versifico animas; pranayamo ventos
Tórridos sertânicos e abençoados
Trago n’alma fogos e encantamentos
Delimito áreas e amontoados
Sou figura ímpar, sou impareado
Sou castelo frágil de imbaubeira
Eu sou pé quebrado torto e remendado
Sou o destocado da restinga inteira.


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Missivas Eternas

Dueto Poético composto por Malu Freitas & Luar do Conselheiro encarnando poeticamente a atriz Eugênia Infante e o poeta baiano Castro Alves.

Eugênia Infante na minha imponente armadura: Meu coração...
Trago a minha impossibilidade de amar-te como me amas.
Tentando sempre possuir-me, ter-me p'ra teus absurdos.
Nest'hora parto violentamente na busca da minha liberdade perdida.
Perdôo pelo seu jeito visceral de me amar e temo pela tua sorte.
Já que me sinto tão triste por não ser aquela que ensejou p´ra todo o sempre.
Jamais meu coração amará outro da mesma forma que te amo.
P'ra mim teus versos estão acima do bem e do mal.
E pelo amor a tua arte, a tua alma, ao teu corpo e até mesmo ao teu sexo... Afasto-me.

Eu Castro em minha tênue loucura, inspirações.
Busco-te com brios e com sede nas auroras de meus dias.
Minha fome seja compreendida, por ser estóica ainda que verossímil
E a nau de meu destino é a sorte que me cabe.
Verdade que desejarias a ti, qual rebento ao seio mater.
E meus versos seriam senão parte da tua vida, a tua vida inteira.
Meus desejos seriam completos apenas ao término de nossas vidas.
E nossas vidas seriam completas intrinsecamente...

...Castro! Peço-te perdão pelas minhas falhas;
Meu egoísmo e até mesmo a minha ignorância á sua dor,
mas não posso mais suportar este ócio latente que afoga minh’alma.
Tentei ver-te no pior momento da tua vida... Impediram-me!
Pra todos sou sua algoz, sua tortura, sua dor.


As falhas são nada menos que provas de humanidade.
Tornam belos os seres, independentemente da pele
Sou ainda capaz de sentir teus sentidos e teus gostos.
Inebriado com teu perfume e com a beleza do teu sorriso
Ainda que este corpo ardil não tenha estado comigo
Nos meus momentos de dor.

Perdão por fugir com o coração em lágrimas.
O destino que nos afasta talvez, um dia, nos atraia.
A um lugar qualquer, em um tempo qualquer, numa era distante.
Adeus Castro! Até um dia.
Guardarei comigo teus doces versos para mim por toda a “eternidade”.


Os eclipses de nossa abóbada.
Estes são e serão exemplos de nós
Óbvio e sutil encontro ainda que raro e intrépido
Este será nosso momento de perdão.
Adeus é dor. Até breve é esperança.
Guarde mais este verso de alforria.

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Che, El Hombre.
Tus ojos cantantes mirando el futuro
Camino obscuro y lleno de amor
Un enseñador con ojos de estrella
Tan grande centella de lucha y honor
Este guerrillero,que hoy esta vivo
No pasa solito mirando el compaso
Nos llegan los brazos del héroe del pueblo
Nos llega el pueblo en un cañonazo
Este nuestro valiente guerrero incansable
E indubitable en nuestras creencias
Son transparencias caminos abiertos
Para todos los muertos y seres vivientes.


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A SAGA DA PEDRA DO BENDEGÓ


A pedra do Bendegó, ferida latente no povo catingueiro, o maior meteorito encontrado no Brasil, roubado pelo Império e levado ao museu Nacional no Rio de Janeiro é o tema deste cordel de protesto.

Que traduz a insatisfação popular e o descaso das autoridades brasileiras em preservar nosso patrimônio.



Todos conhecem a Caaba,
A pedra dos muçulmanos
Fica no templo de Meca,
Protegida dos profanos
A pedra que veio do céu,
É a crença dos puritanos

Agora vocês imaginem,
Como este povo é valente
Se roubassem a pedra santa,
A guerra seria iminente
Preparavam munição
Para lutar ferozmente

Outra pedra incandescente
Oriunda do espaço
Foi a que guiou a rota
De Cristo, aos três Reis Magos.
Os meteoros fazem parte
De objetivos sagrados

Igualmente ocorreu
No meu sertão da Bahia
A pedra caiu do céu,
Trazendo a profecia
Da vinda do Conselheiro
Que a todos libertaria

Em mil setecentos
e oitenta e quatro
No riacho Bendegó,
Numa fazenda de gado
Bernadino da Motta Botelho,
Descobriu o rochedo sagrado

O povo todo fez festa
Por conta da pedra santa
Pois ela veio do céu
Pra trazer esperança
Além do profeta da gente
Riqueza e temperança

É claro que estava certo
O que pensava o povo
Logo, logo haveria,
Pessoas do mundo todo
Injetando muito dinheiro
Pra quem vive de tão pouco

Ledo engano, sonho ingênuo,
A esperança do povão
Mas é claro que a riqueza
Não seria do sertão
Pois era o maior meteorito
Que o Brasil tinha na mão

Pesando cinco mil
Trezentos e sessenta quilos
A pedra já atraia
Pessoas de vários estilos
Pensadores, penitentes,
E Caçadores de mitos

O governo como sempre
Pensando no estrangeiro
Decidiu levar a pedra
Para o Rio de Janeiro
Melhor ir à capital
Que na terra do Conselheiro

Em mil setecentos
E oitenta e cinco
Foi a primeira tentativa
De profanar nosso recinto
A magia ia reinar
Contra nossos inimigos

O governador geral da Bahia
Com usura indisfarçada
Ordenou esta tentativa
Pensando ser ouro e prata
Doze juntas de boi,
Buscar a pedra sagrada

E pela primeira vez,
Fazendo a vontade divina
A pedra do Bendegó,
Escolheu sua própria sina
Há cento e oitenta metros,
Caiu ao virar a esquina

A pedra caiu às margens
Do riacho Bendegó,
Estava claro era um sinal
De Deus na terra do sol
Ficaria cento e dois anos
Sem mover-se a um metro só

Depois de tanto tempo
De fé e procissão
A pedra do Bendegó
Sofreu nova traição
Pois Dom Pedro Segundo
Mandou nova expedição

Chefiada pelo tenente
José Carlos de Carvalho
O que ele não sabia
Teria muito trabalho
A pedra queria ficar
Em terra seca e cascalho

A carreta teve o eixo
Quatro vezes partido
Foram 108 kilômetros
De puro sacrifício
O governo não entendia
Deus tentava impedi-lo

A pedra dos Conselheiristas
Caiu três vezes no chão
O inimigo não deu importância
Caiu mais três vezes então
Só ai são sete quedas
De pedra no Riachão

Cada vez que ela caia,
Mostrando que queria ficar
Era a maior dificuldade
Pra voltar a carregar
Pois a nossa pedra sagrada
Tinha o peso pra dificultar

Mas os homens de má fé
Estavam resolutos
Levariam a pedra santa
De uma vez a qualquer custo
O dinheiro fala mais alto
Neste meu Brasil injusto

Prolongada a estrada
De ferro do São Francisco
Facilitava o trabalho
Maldito do inimigo
A pedra ia pro Rio
Pra evitar mais sacrifício

O trem levou ao porto
A nossa pedra bonita
De navio a pedra foi
À quinta da Boa Vista
Foi à mão dos cientistas
Numa atitude egoísta

Assim que a pedra chegou
As mãos que não crêem em mitos
Cortaram logo um pedaço
De uns bons sessenta quilos
Se achares que exagero
Vejam o meteorito

Pegaram o pedaço
Que eles cortaram primeiro
Em quatorze partes iguais
Re-dividiram ligeiro
Só pra doar à quatorze
Museus pelo mundo inteiro

A pedra do Bendegó
A pedra da profecia
Está no Rio de Janeiro
Exposto pra burguesia
Facilitando pro estrangeiro
Que tanto a pedra queria

O povo do meu sertão,
Da região Conselheirista
Frustrado com o roubo
Debaixo de suas vistas
Clamariam por respeito,
Contra essa ação imperialista

A pedra constituída
De Ferro, Níquel e encanto.
Até o dia de hoje
Provoca tristeza e quebranto
Queremos nossa pedra de volta
De volta pro nosso canto

Advirto ao senhor Presidente
Devolva nossa Tradição
A pedra do Bendegó
Faz parte da religião
O Povo do Conselheiro
Reclama seu coração!


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4 comentários:

Pérola Anjos disse...

Encontrei um vídeo/poema teu no youtube "Abc da Boca do Rio" e nele o endereço do teu blogue.

Fiquei encantada com a tua poesia!

Parabéns!

Beijos!

GERALDO MAIA disse...

Minino arretado! Ixe! Tá bom demais por aqui, visse? Muito belo e muito forte. O Luar desassombrado já engrossado o cangote!

Valeu, cabra!

Obrigado por compartilhar suas preciosidades.

Abraço,
carinho,
Geral Maia

Sonho de Ícaro disse...

Você tem a dádiva..a luz.. em prosa..versos e canções... amo imensamente!

Awilda disse...

Me gusta mucho esta poesía tan elocuente, que además de ser una verdadera obra de arte, nos cuenta plasmada en versos la historia de la Piedra de Bendegó, la cual no conocía.