Total de visitas ao Blog de Luar do Conselheiro:

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Aidner Mendez, O Luar do Conselheiro.




Por Yri Maia


Foto: Yri Maya


Vestindo roupas simples, camisa branca e calça “jeans”, Alpargatas azuis, chega Luar Aidner, 29, fumando seu cigarro, ainda com cara de sono em torno de uma hora da tarde. “Acordei agora, acredita? É costume, só produzo à noite”, contou ente risos. Luar do Conselheiro. É assim que ele gosta de ser chamado.

Nascido no Rio de Janeiro veio para Salvador ainda pequeno, vivia em casa e rodeado pelos amigos, um menino curioso e dedicado aos estudos, Luar já demonstrava interesse pelos costumes de Salvador. “Me interessava, desde pirralho, a descobrir a fauna, flora, religiões e culturas. Um verdadeiro pentelho”,  declara entre risos.

Foto: Pedro Dantas

Quando iniciou a sua adolescência teve acesso à literatura de cordel e influências de cantadores e violeiros como Ivaníldo Vilanova, Zé de Lauretino, Xangai, Elomar, Vital Farias, dentre outros grandes nomes conhecidos da música baiana. “A minha influência literária foi do Mestre Ariano Suassuna, mas minhas descobertas sobre os cantadores foi através da cidade de Uauá e do meu tio e padrinho, ‘o estudioso de Nordestinidades’ Luiz do Berro,” relembra.

Em uma longa visita a cidade de Uauá, se admirou com os costumes dos moradores e pensa em um dia morar lá. “Uauá me acolheu, vi a cultura deste povo e me identifiquei, ao tempo em que fui inserido neste contexto pelas figuras mais engajadas da cidade,” relata.

Como viajante, nessas idas e vindas ao sertão nordestino, Luar consolida a identidade de um poeta popular, em trajetória que incluiu passagem por localidades como Canudos, Uauá, Monte Santo, Alto do Sertão Moxotó, em Pernambuco, regiões que definem perfil e trabalho regional.  “O sentimento foi de reencontro como meu povo, por haver nascido no Rio de Janeiro, ter ido a São Paulo e depois ter vindo para a Bahia, sentia falta de minhas raízes, e só encontrei estas raízes no nordeste, precisamente em Uauá”, declara.

Luar Aidner é mais conhecido, e prefere ser chamado, por Luar do Conselheiro. O nome Conselheiro é uma homenagem a Antônio Conselheiro. “Estive em Canudos em várias oportunidades e volto para lá todos os anos. Escolhi fazer essa homenagem, pois Antônio é meu Conselheiro, já o nome Luar é Raul ao contrário, porque desde pequeno eu escutava Raul e continuo sendo fã do trabalho dele. Me considero um Raulseixista,” declara entre risos.

Luar se diz um Conselheirista. “Desde que me encontrei com essa história, guardo livros e mais livros sobre o tema de Canudos, além de participar de palestras e fóruns sobre o assunto,” declara e retruca, “A Guerra de Canudos é exemplo único na história, deve ser respeitado como tal”.  Quanto mais Luar viajava pelos sertões, mais impressionado ele ficava principalmente com a maneira simples de ver a vida. “O povo sertanejo é uma das coisas que fazem o Sertão  ser um lugar mágico,” declara.

O Conselheirista foi convidado para ser o secretário de cultura em Pernambuco e demonstra felicidade ao falar sobre o assunto. “A gente vem trabalhando desde 2004 com o meio ambiente e cultura na Bahia, porém estamos achando bastante dificuldade e agora o pessoal de Pernambuco conheceu meu trabalho e me chamou para ser Secretário de Cultura de Flores, perto do município de Terra Talhada, onde nasceu Lampião, além de ser um lugar que eu gosto, onde tem muito potencial histórico,” contou e declarou que fica triste por ter que sair da Bahia.

Arquivo pessoal: Luar Aidner

Luar, além de ser cantador, pesquisador, poeta, pai de dois filhos – Antônio, 6 e Francisco, com poucos dias de nascido, também é voluntário na associação chamada Boca do Rio Cultural, que começou em 2006. “Essa associação é composta por vários amigos, que há mais de 15 anos se encontram, todos eles artistas que moram no bairro da Boca do Rio. Sempre comentávamos muito sobre esse projeto, mas eu simplesmente dei forma a ele”, declara. 

A primeira manifestação para o projeto acontecer realmente foi o chamado da prefeitura para cada comunidade da cidade discutir o PDDU, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. “E nessa reunião a gente soube que ia ser construído um emissário submarino na praia dos artistas jogando o esgoto do Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, no oceano e aí a gente se juntou e estamos nessa briga até hoje,” declara.

Luar foi influenciado pelo tio a cuidar da natureza e é com amor que ele vai ensinado o pequeno Antônio, de 6 anos, a ter esse carinho com a fauna e flora. Enquanto Luar comprava cigarros, o filho dele apareceu com uma sacola com vários coquinhos. “Olha o que eu tenho? São cocos pequenos, eu posso plantar para nascerem vários coqueiros”, declarou o garotinho que ali já começava a se espelhar no Luar menino, quando começava a descobrir a flora e a fauna.

Foto: Yri Maya

Já de volta, Luar diz orgulhoso: “esse é meu menino, já está seguindo os passos do papai, risos”. Enquanto se ajeitava na cadeira e ascendia seu cigarro, Luar conta que planta mudas de mangue em seu quintal. “Nessas passadas pela foz do Rio das Pedras, que fica próximo ao Clube do Bahia, percebemos que ainda havia vida, tanto vegetal e animal. E como no bairro de Patamares tem um mangue chamado Passa-Vaca, que virou área de preservação, estamos vendo qual tipo de vegetação poderíamos plantar nesse manguezal,” declara.

Quando terminar o trabalho em Pernambuco, Luar espera voltar à Bahia com mais garra e novidades para trabalhar em cima dessa associação e realizar o projeto “Parque do Xaréu”, que já tem até o local escolhido. Só espera apoio do governo.

Nenhum comentário: