Por Yri Maia
Foto: Yri
Maya
Vestindo
roupas simples, camisa branca e calça “jeans”, Alpargatas azuis, chega Luar
Aidner, 29, fumando seu cigarro, ainda com cara de sono em torno de uma hora da
tarde. “Acordei agora, acredita? É costume, só produzo à noite”,
contou ente risos. Luar do Conselheiro. É assim que ele gosta de ser chamado.
Nascido no
Rio de Janeiro veio para Salvador ainda pequeno, vivia em casa e rodeado pelos
amigos, um menino curioso e dedicado aos estudos, Luar já demonstrava interesse
pelos costumes de Salvador. “Me interessava, desde pirralho, a descobrir a
fauna, flora, religiões e culturas. Um verdadeiro pentelho”, declara entre
risos.
Foto: Pedro Dantas
Quando
iniciou a sua adolescência teve acesso à literatura de cordel e influências de
cantadores e violeiros como Ivaníldo Vilanova, Zé de Lauretino, Xangai, Elomar,
Vital Farias, dentre outros grandes nomes conhecidos da música baiana. “A minha
influência literária foi do Mestre Ariano Suassuna, mas minhas descobertas
sobre os cantadores foi através da cidade de Uauá e do meu tio e padrinho, ‘o estudioso
de Nordestinidades’ Luiz do Berro,”
relembra.
Em uma longa
visita a cidade de Uauá, se admirou com os costumes dos moradores e pensa em um
dia morar lá. “Uauá me acolheu, vi a cultura deste povo e me identifiquei, ao
tempo em que fui inserido neste contexto pelas figuras mais engajadas da
cidade,” relata.
Como
viajante, nessas idas e vindas ao sertão nordestino, Luar consolida a
identidade de um poeta popular, em trajetória que incluiu passagem por
localidades como Canudos, Uauá, Monte Santo, Alto do Sertão Moxotó, em
Pernambuco, regiões que definem perfil e trabalho regional. “O sentimento foi de reencontro como meu
povo, por haver nascido no Rio de Janeiro, ter ido a São Paulo e depois ter
vindo para a Bahia, sentia falta de minhas raízes, e só encontrei estas raízes
no nordeste, precisamente em Uauá”, declara.
Luar Aidner
é mais conhecido, e prefere ser chamado, por Luar do Conselheiro. O nome
Conselheiro é uma homenagem a Antônio Conselheiro. “Estive em Canudos em várias
oportunidades e volto para lá todos os anos. Escolhi fazer essa homenagem, pois
Antônio é meu Conselheiro, já o nome Luar é Raul ao contrário, porque desde
pequeno eu escutava Raul e continuo sendo fã do trabalho dele. Me considero um Raulseixista,” declara entre risos.
Luar se diz
um Conselheirista. “Desde que me encontrei
com essa história, guardo livros e mais livros sobre o tema de Canudos, além de
participar de palestras e fóruns sobre o assunto,” declara e retruca, “A Guerra
de Canudos é exemplo único na história, deve ser respeitado como tal”. Quanto
mais Luar viajava pelos sertões, mais impressionado ele ficava principalmente
com a maneira simples de ver a vida. “O povo sertanejo é uma das coisas que fazem
o Sertão ser um lugar mágico,” declara.
O Conselheirista foi convidado para ser o
secretário de cultura em Pernambuco e demonstra felicidade ao falar sobre o
assunto. “A gente vem trabalhando desde 2004 com o meio ambiente e cultura na
Bahia, porém estamos achando bastante dificuldade e agora o pessoal de
Pernambuco conheceu meu trabalho e me chamou para ser Secretário de Cultura de
Flores, perto do município de Terra Talhada, onde nasceu Lampião, além de ser
um lugar que eu gosto, onde tem muito potencial histórico,” contou e declarou
que fica triste por ter que sair da Bahia.
Arquivo pessoal: Luar Aidner
Luar, além de ser cantador, pesquisador, poeta, pai
de dois filhos – Antônio, 6 e Francisco, com poucos dias de nascido, também é
voluntário na associação chamada Boca do
Rio Cultural, que começou em 2006. “Essa associação é composta por vários
amigos, que há mais de 15 anos se encontram, todos eles artistas que moram no
bairro da Boca do Rio. Sempre comentávamos muito sobre esse projeto, mas eu
simplesmente dei forma a ele”, declara.
A primeira manifestação para o projeto acontecer
realmente foi o chamado da prefeitura para cada comunidade da cidade discutir o
PDDU, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. “E nessa reunião a gente soube
que ia ser construído um emissário submarino na praia dos artistas jogando o
esgoto do Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, no oceano e aí a
gente se juntou e estamos nessa briga até hoje,” declara.
Luar foi influenciado pelo tio a cuidar da natureza
e é com amor que ele vai ensinado o pequeno Antônio, de 6 anos, a ter esse
carinho com a fauna e flora. Enquanto Luar comprava cigarros, o filho dele
apareceu com uma sacola com vários coquinhos. “Olha o que eu tenho? São cocos
pequenos, eu posso plantar para nascerem vários coqueiros”, declarou o
garotinho que ali já começava a se espelhar no Luar menino, quando começava a
descobrir a flora e a fauna.
Foto: Yri Maya
Já de volta, Luar diz orgulhoso: “esse é meu
menino, já está seguindo os passos do papai, risos”. Enquanto se ajeitava na
cadeira e ascendia seu cigarro, Luar conta que planta mudas de mangue em seu
quintal. “Nessas passadas pela foz do Rio das Pedras, que fica próximo ao Clube
do Bahia, percebemos que ainda havia vida, tanto vegetal e animal. E como no
bairro de Patamares tem um mangue chamado Passa-Vaca, que virou área de
preservação, estamos vendo qual tipo de vegetação poderíamos plantar nesse
manguezal,” declara.
Quando terminar o trabalho em Pernambuco, Luar
espera voltar à Bahia com mais garra e novidades para trabalhar em cima dessa
associação e realizar o projeto “Parque do Xaréu”, que já tem até o local
escolhido. Só espera apoio do governo.
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